Histórias de vida

Pelotas - RS

"O que que seria de mim sem ti?" - Janaína Silva

Hoje estou mais centrada na minha vida espiritual e profissional. Quando a doença veio eu tive que parar com tudo, então estou há um ano e meio cuidando de mim, me tratando e a existência da minha filha foi o que ajudou a manter. Eu cheguei em casa e fui no banheiro chorando, saí de lá limpando as lágrimas e o meu pai e a minha mãe foram me encontrar na porta e eu perguntei a eles: “quero saber se tem mais um lugar no coração de vocês para mais um neto?”. A minha mãe quase morreu de felicidade, porque ela sempre quis que eu tivesse um filho e orava, também, para Deus me dar um filho, para que, como ela mesma diz, eu tivesse a minha raiz, para que eu não ficasse sozinha. Eu também queria ter um filho, era o meu sonho. Isso foi a alegria da casa e eles foram uns amores. Ia vir uma neta ou mais um neto, nós não sabíamos o que era. 

São vários os fatores que podem causar câncer. Eu vi um médico no Faustão dizer que o stress e a má alimentação de hoje podem causar, e hoje em dia nós comemos muita porcaria. Durante esses anos, a partir do nascimento da Sophia até hoje, eu passei por algumas tribulações e acho que foi isso que desencadeou o câncer. Ele se desencadeou pelo meu lado emocional, porque pelas vias hereditárias havia pouco risco. A partir disso, ele permitiu que eu aprendesse muita coisa. Em dezembro de 2015 eu comecei a investigar a possibilidade de estar com o câncer, que foi constatado em janeiro de 2016. Eu sentia cólicas até engravidar e depois que Sophia nasceu eu tinha dores de cabeça horríveis e a cólica sumiu, mas o seio ficava inchado e dolorido, depois voltava ao normal. Em dezembro o peito inchou, ficou dolorido, mas quando acabou a menstruação o seio direito voltou ao normal e o esquerdo não. Ele estava endurecido, e como sentia umas fisgadas e percebi uma bolinha, fui investigar. Fui em uma clínica que é conveniada com a empresa na qual eu trabalhava e consultei com uma ginecologista, que me pediu uma bateria de exames. Ela pediu ultrassom da mama, mamografia, transvaginal, exame de sangue e urina. Eu consegui fazer em dezembro a mamografia, a ultrassom e a transavaginal. Um dos médicos que me atendeu disse que não via nada de anormal e que era para eu aproveitar as festas porque no próximo ano eu faria a biópsia e levaria os resultados para a minha médica. Então fiquei imaginando que seria benigno e passei o final de ano tranquila. Em janeiro eu comecei a investigar. A biópsia particular era R$ 600,00 reais, então tive que tentar pelo SUS. Uma colega de trabalho indicou um postinho onde a mãe dela é enfermeira e de lá me encaminharam para um hospital, onde o médico me examinaria e faria a biópsia por um  único valor. Fui lá e o médico cobrava consulta só para me ver, para me dizer quanto ia me cobrar pela biópsia. Eu nem tinha condições e não quis. Aí me indicaram outro médico por meio de um encaminhamento da Secretaria da Saúde. Nesse meio tempo me falaram de outro médico que era ginecologista e mastologista também e atendia pela clínica onde eu tinha convênio. Rapidamente consegui uma consulta e levei os meus exames. Ele disse que eu precisava fazer uma biópsia, mas eu não tinha dinheiro para pagar. Então ele pediu para eu deitar e fez. Pegou uma seringa, cravou e tirou um pouquinho. A agulha era um pouco mais grossa e doeu muito. Ele fez o procedimento e eu tinha que pegar um atestado para levar para empresa, além de um um remédio para dor. Ele me receitou paracetamol e o resultado sairia em uma semana mais ou menos. 

Segui a minha vida, trabalhando, só que aí no dia de pegar a biópsia eu saí um pouquinho mais cedo e fui pegar o resultado. Entrei no carro e na biópsia dizia algo sobre células malignas. Eu não queria acreditar! Como assim células malignas? Me veio aquele filme na cabeça... células malignas indicam câncer! Fique desnorteada! Li, reli, li, reli e desabei a chorar. Acho que nunca tinha chorado tanto na vida, chorei que nem criança. Nem sei o que as pessoas que passavam pela rua pensavam quando me viam ali dentro do carro. Eu fiquei chocada. Eu não sou uma pessoa ruim, uma pessoa maldosa, então eu pensava: “Porque que está acontecendo isso comigo?”. Todo mundo tem um chamado, todo mundo tem algo que Deus quer que tu faças, seja para ajudar alguém, seja para cantar ou seja para pregar a palavra… às vezes têm pessoas que tem o dom de te abraçar e aquele abraço te confortar de uma maneira sobrenatural que ninguém mais consegue…

Eu nunca fui de ir na Igreja, de pegar o meu dom, de querer cumprir um chamado. Sempre tive altos e baixos, até com os relacionamentos. E foi isso que passou pela minha cabeça, tudo o que aconteceu comigo, toda raiva, toda ira que eu senti. Eu chorei muito e determinei: “Senhor, eu não vou murmurar. Em momento algum eu vou murmurar. Passe o que passar, haja o que houver eu não vou murmurar. Não vou ficar me lamentando. Eu determino aqui que não vou morrer de câncer, ele só tá passando pelo meu corpo, pela minha vida, mas isso não é meu, não me pertence, eu não aceito ele, eu não vou morrer de câncer!”. Chorei e pedi para Deus: “Senhor, custei pra ter a minha filha, que tu me deste no momento certo, na data certa em que eu pedi! Me deixa criá-la!”. 

A minha filha veio quando eu tinha 35 anos e eu tinha pânico de que ela fosse criada longe de mim. Eu confio em mim e nos meus pais, que já estão com certa idade e não são eternos, então pedi a Deus forças para lutar contra a doença, porque eu não tinha medo de morrer, nunca tive, mas queria e quero criar a minha filha. Então determinei na minha vida que seria forte, perseverante e que ia lutar. Deus não se agrada com os murmúrios, porque ele nos dá tantas coisas, até o ar... e tem gente que se lamenta por qualquer coisa. Dali pra frente eu corri sempre. Como eu tenho o meu carro, fui sozinha em tudo. O meu pai só me levou nas cirurgias, quando eu não podia dirigir. Na cirurgia do dia 25 de fevereiro, quando fiz a mastectomia radical com a raspagem na axila e no mamilo, quando vieram os resultados o médico disse que de dez sentinelas que ele havia tirado dois estavam afetados, mas que podíamos deixar assim ou fazer o esvaziamento. Eu disse a ele que faria o que ele achasse melhor, que queria ficar livre. Então no dia 7 de abril eu já estava fazendo o esvaziamento da axila. Quando o médico me liberava eu dirigia, fui em todos os lugares que eu tive que ir sozinha. Levava uma tia para me acompanhar em toda a quimioterapia, que foi muito boa comigo. Tive uma recaída da depressão quando chegou na quimioterapia vermelha, que é muito forte, um veneno, cujo ciclo deveria ser a cada 21 dias. Quando fiz a primeira quimio, passei enjoada uns 3 dias, vomitando, com o corpo pesado e me sentindo mal, porque tu perdes o controle de si. Me sentia cansada e sem vontade, o que acarretou nos sintomas de depressão. Depois teve o aniversário de 3 aninhos da Sophia (eu estava careca, mas os efeitos ruins já tinham passado) e fizemos a festinha aqui em casa. Na segunda quimioterapia eu já sabia os sintomas e isso foi mexendo com o meu psicológico, então ao invés de ficar 3 dias mal eu ficava 4, 5 dias…Quando fui fazer a segunda quimioterapia, 21 dias depois, fiz o exame de sangue que acusou que a minha imunidade estava lá embaixo. Aí falaram para eu não me preocupar, que o organismo só reage com 28 dias e que então talvez fosse interessante fazer a quimioterapia vermelha a cada 28 dias, mas que teríamos que fazer o teste no 21º dia. Então eu tirava o sangue nesse dia e a imunidade estava sempre baixa para fazer a quimioterapia, que aumentava logo depois, no dia 28.  Aí perguntei ao meu oncologista se eu teria que comer alguma coisa, beber ou fazer algo, e ele disse que o organismo é que tinha que reagir. Que eu deveria manter a alimentação natural, evitar os embutidos, que eu evito até hoje. Na terceira quimioterapia foi a mesma coisa e isso mexeu muito com o meu emocional. Aí já estava procurando psiquiatra! 

Desde o início eu já tava me tratando com a psicóloga, que se apresentou na primeira quimioterapia perguntando se eu queria acompanhamento. Na terceira quimioterapia eu sentia vertigem, passei mal, parecia que ia desmaiar, mas tudo era o psicológico, o emocional. Tudo isso porque eu ficava mal durante algumas semanas e quando estava melhorando já estava chegando a data da outra quimio, que me derrubaria novamente. A quarta quimioterapia era a última, e me deu uma dor no peito de respirar. Aí me afastaram, me colocaram em uma sala isolada e veio o médico pra escutar meus batimentos. Eu já sabia e falava para eles que era emocional e que não era para estar acontecendo porque era a última quimioterapia. E dito e feito. Tinha uma enfermeira muito querida que sentava na beira da cama e conversava comigo, para me distrair. E eu dizia para ela que eu sabia que ela estava ali só para isso, e que a dor no peito ia passar porque era só emocional e nós ríamos muito. Realmente, começou a passar. Eu assustei todos, até a minha médica veio escutar os batimentos e ver como eu estava, foi aí que comecei a tomar os remédios.

 A pior parte do tratamento foi a quimioterapia vermelha, porque eu tive a recaída da depressão e comecei a tomar os remédios. Mudaram os medicamentos que eu já tomava e me deram encaminhamento para a psiquiatra. Demorou um pouco ainda pra eu ser atendida, mas eu já tava sendo tratada pela clínica e já tava me tratando com os remédios. Essa foi a parte mais difícil do tratamento por causa da imunidade baixa e porque passei muito mal da quimioterapia, mas como eu tinha prometido a Deus que eu nunca ia murmurar, eu nunca murmurei. Teve dias em que eu chorei embaixo do chuveiro e pedia ajuda a Deus, para que ele me carregasse no colo porque eu não tinha mais forças. Eu sou humana, não tinha mais forças, então eu chorava e sentia Deus me carregar no colo. Era tão maravilhoso porque parecia que eu descansava. Eu ficava uma semana mal, fraca, sem forças. Um dia eu disse para a minha pastora que havia pedido isso a Deus. Passei 4 meses assim e depois o meu médico me deu 40 dias de folga entre uma quimioterapia e a outra, entre a vermelha e a branca. Nesse período eu viajei para Caxias e quando voltei comecei a fazer as quimios brancas fracionadas. Então eram 3 semanas de brancas, falhava uma semana e assim sucessivamente, só que uma vez o que ocorreu foi que fiz 3 brancas que mexeram na minha imunidade e me causaram anemia. Só que como um paciente oncológico não tem tempo para fazer um tratamento, tomar comprimidos ou cuidar da alimentação, então a saída foi a transfusão. Eu nunca tinha feito transfusão na minha vida e orei a Deus pedindo para que ele me fortalecesse. Para a transfusão eu corri muito para pedir liberação. Disse para minha mãe cuidar da minha filha, peguei o carro e corri para cuidar da minha saúde. Fiz a transfusão e disse: “Senhor, abençoa, cuida, vê bem que sangue tão colocando em mim, de quem é, como vai ser, como vai ser a minha reação!”, porque tinha um monte de reação que poderia causar ou não, e graças a Deus eu não tive nada. Foi super bem e parecia que eu tinha tomado soro. Deus me abençoou. Tem pessoas que precisam ser internadas, têm que faça mais de uma e eu não precisei. Fiz aquela ali e segui as quimioterapias, pois ainda faltavam 9. Nunca mais senti nada e isso tem se mantido. E agora tem essa vacina que inibe as células malignas e te fortalece em tudo, só que pode causar algumas coisas no coração. Por isso que meu oncologista, na consulta dessa semana, me perguntou se eu havia feito o exame do coração, que eu fiz antes de começar as vacinas. Ele disse que depois vai me pedir outro exame, porque são 18 vacinas no total, uma a cada 21 dias e não se sabe o que eles podem causar. Com ela eu só sinto um pouco de cansaço no corpo, mas isso pode ser das quimioterapias, porque é uma coisa atrás da outra. 

Quando terminou a quimioterapia eu fiz radioterapia, que também causa um cansaço. Isso também era um medo que eu tinha, de queimar a pele e de ter algum problema.  Na rádio eu me preocupava em causar alguma coisa no silicone, porque ela queima. Então eu sempre me cuidei e tudo o que os médicos mandavam eu fazer eu fiz, rigorosamente. Quando passei mal com as quimios vermelha eles mandavam tomar chá de camomila pra não causar afta na boca e eu tomava duas vezes por dia, no mínimo, e à noite, antes de dormir, e não me deu afta. Então antes de começar a rádio eu já comecei a hidratar a pele e quando eu comecei eles me prescreveram um gel manipulado. Quando uma empresa lançou uns produtos novos para quem faz a rádio eu ganhei amostras e também passava. Comecei a tratar muito cedo a mama, que escureceu, mas não foi nada demais. Se tu olhares vais ver que ela não tem nada de diferente da outra, até o mamilo estava mais claro porque trocou de pele, que queimou, e agora está voltando ao normal. Isso aconteceu com o outro também, mas como me cuidei não posso reclamar. O que me disseram para fazer eu fiz e não gosto de fazer nada sem a prescrição do médico porque não sei que resultado pode ter. 

Esses dias a minha tia me trouxe uma plantinha que parecia um capim grosso que quando abria tinha um leite.  Disseram a ela que era bom e ela veio com a planta. Ela tem um bom coração e diz que ora por mim sempre, mas eu agradeci e não aceitei, porque eu não sabia nem o nome da planta, claro que não ia usar. Tenho abusado um pouco na alimentação. Cortei os embutidos, diminui o açúcar, mas ainda tô comendo bastante. Engordei por culpa dos remédios e também porque é difícil trocar os hábitos de uma hora para outra. É mais fácil comer mais do que comer menos! A minha psiquiatra inclusive diminuiu o remédio, porque eu estava muito agitada. Sinto que às vezes eu falo rápido demais, mas antes eu falava mais rápido ainda. Com as quimioterapias perdi totalmente a paciência. Eu não tinha paciência com o meu pai, com a minha mãe, nem com a Sophia. Eu tinha vontade de mandar eles calarem a boca, gritar, sair correndo e sumir. 

Eu passei momentos muito ruins. Quando a Sophia fazia arte, na época da quimio vermelha, eu não conseguia brigar com ela, não conseguia fazer nada, eu não tinha força para nada, nem para xingá-la. Eu só dizia que quando passasse eu brigaria com ela. Hoje eu estou um pouco melhor do que eu estava, mas com acompanhamento da psiquiatra. O meu oncologista diz para eu me cuidar, que a cabeça é que comanda e que eu preciso fazer exercícios, nem que seja uma caminhada. Amanhã vou aqui próximo ver se tem pilates, eu estou muito sedentária e tenho que fazer algo pra me ocupar. Não posso ficar só parada em casa, fazendo uma coisinha ou outra com a Sophia ou correndo para os médicos.

O que marcou disso tudo é o fato de olhar para a minha vida e ver que uma história tem ligação com a outra, é isso que eu sinto hoje. Deus permitiu que a doença viesse para que eu fosse consciente de que dependo Dele, tenho que fazer mais as coisas que Ele tem pra mim e não fazer as coisas pela minha própria vontade. Pela minha própria vontade, principalmente com relacionamentos, eu só sofri. Por muitos anos da minha vida a minha oração estava errada. Eu pedia filhos, só que não pedia um marido. Deus me ouviu e deu a minha filha com os 35 anos, como eu queria e pedia. Ele não tem culpa de eu ter escolhido o pai errado e ter passado tudo o que eu passei. A doença veio para me mostrar isso e não guardar rancor e mágoa das pessoas. Devo perdoar de vez e esquecer. Esse ano consegui convidar ele para o aniversário da minha filha, claro que ele ficou constrangido de vir, mas por mim poderia ter vindo. Isso é muito forte! 

Eu tenho a minha fé! Tenho um Deus que me sustentou e me sustenta até hoje. No deserto, na parte mais difícil, que foi a quimioterapia vermelha, eu fechava os olhos e pedia: “Deus me carrega no colo!”, e eu sentia ele me carregar, isso não tem preço. Não tem câncer no mundo que vai me derrubar enquanto eu estiver firmada em um Deus que eu sirvo. Por isso que hoje, mais do que nunca, eu quero servir a Deus, quero cumprir o meu chamado. Me vejo pregando na igreja o amor de Jesus. O câncer me fez acordar pra isso. Essa foi a vida plena que Deus me deu. Como dizem, e isso é comprovado, o emocional muitas vezes atrai enfermidades e escuto isso até dentro da Igreja. No retiro de jovens que eu fui teve uma pregação sobre. É verdade, porque para mim atraiu. Aí tu te perguntas: “Tu és cristã a mais de 20 anos, como é que Deus vai permitir que tu tenhas um câncer?”, e a Bíblia diz, de forma clara, que nos últimos tempos ia ter pragas e doenças horríveis no mundo. Hoje vemos que há uma epidemia. Tem muita gente com câncer. Eu sou humana, como qualquer outra pessoa, mesmo sendo cristã, então eu também estou nesse grupo. A diferença é que eu tenho Jesus e tinha onde me segurar, tinha a minha fé. Lá no início eu chorei muito, desesperada sem saber que reação tomar, que atitude tomar, eu lia em um documento que estava com câncer e eu não queria. Eu não pedi para ter câncer, mas determinei na minha vida que eu não iria murmurar e daquele dia em diante Deus ficou calado, mas quando ele está calado está trabalhando a teu favor. Então eu ia na igreja e eram 3 casais de pastores orando, mas nunca Deus falou através deles para mim. Isso foi bem no período das minhas cirurgias e eu passei bem. Foram muito simples as minhas cirurgias, não tive problemas. 

Certo dia fui na igreja e a pastora já estava orando por mim, porque nos conhecemos há muitos anos, e me disse para eu não ir embora. Quando terminou o culto ela me chamou no altar e orou comigo. Aí quando eu vi ela começou a orar em outras línguas e Deus começou a falar para mim que sabia o que eu tava passando, que Ele estava comigo, ao meu lado, todo o tempo, mesmo quando eu achava que Ele não estava. Então era para eu glorificar o nome Dele, e me disse: "tu vais criar tua filha!", e eu chorava que nem criança emocionada com o que Deus estava me dizendo, e ele repetiu de novo, "eu estou contigo, não temas porque eu estou do teu lado em cada momento, isso não é pra tua morte, é pra ti glorificar o meu nome, e tu vais criar a tua filha e eu vou estar contigo". Então para mim aquilo bastou, eu chorei que nem criança ali com a pastora, e mais força eu tive. 

Por mais que eu tenha passado, depois de todo processo da quimioterapia, por recaídas de depressão a minha fé só aumentou. A carne poderia estar sofrendo, é normal, tinha que protocolar a medicina, mas eu já estava curada, eu creio na cura de Deus.  Jesus me curou, eu não tenho câncer, só que eu tenho que protocolar a medicina, então eu sempre fui taxativa nisso. Todo mundo pergunta o que estou fazendo agora, se  terminei o tratamento, e eu digo: “não, eu estou protocolando ainda a medicina, tô em tal fase…, mas curada eu já estou”. Eu tomei posse da minha cura e depois que a gente toma posse tu não voltas atrás, porque pra Deus sim é sim e não é não. Então eu tomei posse, não volto atrás. Então eu acho que é basicamente isso, a fé e a força de vontade são muito importantes. Claro que a família ajuda muito, meus irmãos, mesmo meu irmão estando nos EUA, me ligando, perguntando, orando por mim... o de Dom Pedrito,mais velho, veio na primeira cirurgia, depois ele veio me ver quando eu estava numa das quimioterapias vermelhas. Além disso tive o meu pai e a minha mãe sempre comigo, mesmo eu passando por aquele período em que eu não tinha paciência com eles, sempre estiveram firmes comigo, cuidando da minha filha, o que pra mim já era tudo, porque eu tinha que cuidar de mim. Então é isso, cada um com a sua fé, mas sem Jesus eu não sou ninguém. Sempre digo pra Ele, "o que que seria de mim sem ti?”. O que seria da minha vida sem Jesus? Acho que nem estaria mais aqui, porque Deus foi e é muito bom para mim, o tempo todo. Nós somos seres humanos, a gente é falho, a gente tá sempre errando e Deus não olha os nossos erros. Ele nos ama com um amor ágape, um amor incondicional. Então, por amor e por misericórdia ele faz coisas sobrenaturais para nós, mesmo que muitas vezes a gente não mereça. Para mim não tem força maior do que Deus na minha vida, mesmo durante todo esse período difícil que eu passei, não tem. 

Dois anos depois... 

Depois disso eu tive a recidiva, pois o câncer voltou na pele da mama, aí eu tive que tirar toda a mama. Tive que tirar a prótese que tinha colocado na cirurgia e o máximo de pele que podia tirar. Só que na pele do tórax ainda ficaram uns “foquinhos” e por isso eu continuo na quimioterapia. Além disso, tem um carocinho aqui que eu tenho que controlar, perto do pescoço e apareceu um bem pequeninho mais perto do ombro. 

Fiz a cirurgia da mama no ano passado, em julho. Fiz a mastectomia radical e continuei com a quimioterapia. Aí em fevereiro deste ano apareceu na outra mama. Em julho fiz a cirurgia e não coloquei prótese. Só que nesse período antes e depois da cirurgia, em que eu fiquei sem a quimioterapia, totalizou quase 60 dias. Aí é que os “foquinhos” que eu tinha na pele abriram e criaram feridas - que é como eu estou agora. Se espalhou e por isso estou cheia de curativos.Agora estou mantendo as quimios de manutenção e estou usando o remédio novo que ganhei na justiça, o Pertuzumabe, que o médico disse que vai me ajudar bastante. Então estou aguardando para fazer minha quimioterapia com esse remedinho. Quando aconteceu com a outra mama eu fiquei me perguntando: “Tudo de novo?”, mas eu queria me livrar, então não entrei em choque. Se apareceu e tem que tirar, se tira. Não quero ficar com nada pendente. Mas claro que é uma coisa que incomoda passar por tudo mais uma vez.Não tenho sentido muito efeito colateral, tenho sentido apenas um pouquinho de enjoo, mas não é uma coisa muito forte. Às vezes dá um cansaço normal da quimio, nada em excesso.

A Sofia, minha filha, já entende um pouco mais a situação. Ela olha as minha “feridinhas” e pergunta: “Mãe, tá saindo sangue?”; “E esse já tá melhor?”. Ela olha, assimila as coisas e acompanha. Ela não tem medo de me perder porque eu acho que ela não entende assim, de que o câncer é uma doença grave e que pode levar a morte. É uma criança, tem 6 anos, mas ela me cuida. Além disso, isso acontece porque nós nunca explicamos para ela a gravidade da doença e que eu posso morrer ou “virar estrelinha”, nunca falei isso para ela. Tentamos manter a situação mais natural possível. Mais normal... natural, como puder, no caso. A gente nunca fala pra ela essas coisas assim de gravidade, não.

O meu pai é mais quieto e não fala muito sobre isso, já a minha mãe fica bem nervosa, mas tenta não demonstrar. Ela chora e fica bem abatida, um pouco depressiva. Ela não vê minhas feridas, pois não tem coragem de ver e eu não quero que ela veja para que não fique assustada. Mas ela fica preocupada porque as feridas demoram a cicatrizar. Quando teve o foco na outra mama ela ficou bem nervosa e o meu pai também. Eles seguem me ajudando, inclusive ganho café na cama.


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